E quem não pode?

Amanhã começa um dos eventos de literatura mais importantes do Brasil, a Festa Literária de Paraty, Flip. Muito provavelmente, você não estará lá, na cidade histórica, dando o ar da sua graça (eu, pelo menos, não estarei). Mas isso não vai impedir de estarmos super bem informados sobre tudo que vai rolar no evento. Depois de uma voltinha pela internet, o Pra Ler selecionou algumas das atrações mais bacanas da Flip 2011.
Dia 06, quarta-feira:
A mesa de abertura da Flip conta com ninguém menos que Antonio Candido (escrito assim mesmo, sem nenhum acento circunflexo). Com 93 anos, ele é o mais importante crítico literário brasileiro. Além de crítico e estudioso da literatura, Candido é escritor, sociólogo e professor. Sua obra mais conhecida e, diga-se de passagem, mais polêmica é a “Formação da Literatura Brasileira”, lançada em 1959. Nesse livro, ele estuda os momentos decisivos da formação do sistema literário brasileiro, e afirma que a literatura no Brasil só passaria a existir a partir do neoclassicismo. Antes haveria, na opinião de Candido, apenas manifestações literárias (o apenas foi por minha conta, só para instigar a polêmica. Na verdade, ele não desmerece a importância do que chama de “manifestações”). Para saber mais sobre o intelectual, leia esta entrevista feita por Heloisa Pontes, em agosto de 1987 para o Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo.
Dia 07, quinta-feira:
“O humano além do humano”, esse é o nome de uma das mesas programadas para o segundo dia da Festa Literária. Quem são os participantes dessa discussão um tanto quanto abstrata? Um filósofo, Luiz Felipe Pondé, e um médico neurocientista, Miguel Nicolelis. O representante do lado “Humanas” é doutor pela USP e pela Université de Paris VIII, pós-doutor pela Universidade de Tel Aviv (Israel) e professor de ciências da religião na PUC-SP e de filosofia na Fundação Armando Alves Penteado, a Faap. Vai lançar na Flip o livro “Para entender o catolicismo hoje”. Já aquele que representa a “Ciência” foi considerado pela revista Scientific American, na década passada, um dos 20 maiores cientistas do mundo e lidera um grupo na Universidade Duke, de Durham, nos Estados Unidos, que pesquisa próteses neurais destinadas a reabilitar pacientes que sofrem de paralisia corporal. Está bom ou quer mais?
Dia 8, sexta-feira:
valter hugo mãe é um escritor angolano de 40 anos que não coloca uma letra maiúscula nos romances. Ganhador do Prêmio Literário José Saramago em 2006, é autor de quatro livros. Um deles, O Remorso de Baltazar Serapião, chegou ao Brasil este ano e A Máquina de Fazer Espanhóis, muito elogiado pela crítica portuguesa no ano passado, será lançado durante Flip.
Dia 9, sábado:
Joe Sacco é considerado o pioneiro do chamado Jornalismo em quadrinhos. Suas obras são produzidas a base de muita investigação in loco. Sacco viajou até zonas de conflitos como Bósnia e Palestina para fazer a apuração dos seus livros. Sua experiência está contada em primeira pessoa, com direito a uma caricatura dele mesmo. “Notas sobre Gaza” (seu último livro), “Derrotista”, “Área de Segurança: Gorazde”, “Palestina: na Faixa de Gaza”, “Palestina: Uma Nação Ocupada” e “Uma história de Sarajevo”: todos estão disponíveis no Brasil.
Dia 10, domingo:
“Ausência que seremos” é um pequeno trecho de uma poesia de Jorge Luis Borges que estava escrito num papel no bolso de Héctor Abad Gómez quando encontrado morto, assassinado. “Ausência que seremos” é também o nome do livro do colombiano Héctor Abad Faciolince, filho de Gómez. A obra lançada em junho aqui no Brasil traz a relação com o pai e a história da sua morte. Héctor, além de filho, é um premiado escritor, tradutor e jornalista, nascido em Medellín, em 1958.
E para fechar nossa lista de destaques: durante a Festa Literária de Paraty, o Movimento por um Brasil literário, que nasceu na Flip em 2003, traz a Campanha por um Brasil Literário. Antes de cada mesa do evento, serão exibidas vinhetas com depoimentos e imagens de pessoas de todo o Brasil. A idéia é mostrar um país leitor e as dificuldades enfrentadas para se ter acesso à leitura neste nosso Brasilzão. As vinhetas foram feitas a partir do documentário “A Palavra Conta”, lançado na Flip 2010.
Ler sobre tudo o que você poderia ter visto, mas não irá ver, é um tanto quanto deprimente, eu sei. Mas, veja pelo lado bom, pelo menos você se mantém informado.
Thais Marinho
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