Comemoração dupla?

Primeiro de maio é marcado como “data comemorativa” duas vezes aqui no Brasil: é Dia Internacional do Trabalho e também Dia da Literatura Brasileira.
O primeiro motivo faz referência às revoltas populares que aconteceram na primeira semana de maio de 1886, em Chicago, nos Estados Unidos. Estima-se que cerca de 40 mil manifestantes se organizaram numa greve geral na cidade para reivindicar turnos de trabalho de oito horas e salários mais dignos. Na época, era comum pessoas trabalharem até 17 horas por dia e receberem apenas cerca de US$ 1,50 diariamente. A mobilização se espalhou pelo país ianque e por todo o mundo, fortalecendo as lutas trabalhistas pós-Segunda Revolução Industrial.
Já o Dia da Literatura Brasileira é comemorado no primeiro dia de maio porque foi nessa data que nasceu José de Alencar. O autor de Senhora (1875) viveu 48 anos e é considerado um dos grandes nomes do Romantismo brasileiro. É com o Romantismo e o Realismo do século XIX que a nossa literatura começa a se voltar pra temáticas mais nacionais e, por isso, justifica-se o uso do aniversário de um dos maiores autores brasileiros românticos como data para se comemorar a Literatura feita por aqui.
Séculos passados, os direitos às férias remuneradas, descansos semanais e 13º salário, entre outros, foram conquistados. Porém, ainda hoje denúncias de uso do trabalho escravo como mão de obra são deflagradas e taxas de desemprego chegam a mais de 20% em alguns países da Europa. Já a Literatura nacional, apesar de ostentar nomes como Guimarães Rosa e Machado de Assis, além de receber homenagens e reconhecimento estrangeiros em Feiras de Livro pela América Latina a fora, ainda sofre.
Últimos dados da pesquisa Retratos de Leitura no Brasil, mostraram a pouca valorização que a arte das letras tem por aqui: lemos, em média, apenas 7,4 livros por ano, incluindo os escolares. Além disso, nossa fita não está na melhor das condições, nessa área, pelo mundo: o maior dos prêmios de literatura nunca foi dado a um brasileiro. Embora sugestões de merecedores do Nobel de Literatura não faltem, como Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado e outros, até então, o máximo que conseguimos foi bater na trave.
Aparentemente, em vários sentidos, a luta continua.
Ennio Rodrigues
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