6 livros de Lygia Fagundes Telles
Premiada escritora paulistana é a primeira mulher brasileira indicada ao Nobel de Literatura

Em 2016, é Lygia Fagundes Telles quem vai representar o Brasil no prêmio Nobel da Literatura – em fevereiro, a União Brasileira de Escritores anunciou que o nome da autora foi escolhido por unanimidade pelos membros da organização. “Lygia é a maior escritora brasileira viva e a qualidade de sua produção literária é inquestionável”, afirmou o presidente da UBE, Durval de Noronha Goyos, em nota à imprensa. O anúncio do resultado final será feito em outubro deste ano pela Academia Sueca.
Leia também: A regra do jogo: como são escolhidos os indicados ao Nobel de Literatura
Lygia não é estranha a grandes feitos: a paulistana de 92 anos, que publicou ainda na adolescência o seu primeiro livro de contos, Porão e sobrado (1938), e é multivencedora do Prêmio Jabuti, se tornou imortal da Academia Brasileira de Letras em 1985 e recebeu em 2005 o Prêmio Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa. Ela é a primeira mulher brasileira a ser indicada pelo Brasil à premiação sueca. Caso saia vitoriosa, vai ser também responsável por trazer pela primeira vez a honra ao Brasil – Ariano Suassuna, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar estão entre os brasileiros que já bateram na trave em anos anteriores.
Se você ainda não conhece bem a obra da escritora, é hora de tirar o atraso – para dar uma mãozinha, listamos aqui seis obras de destaque da autora que valem a pena conhecer:
Ciranda de Pedra
(1954)
Levado para a TV em duas ocasiões (nas novelas homônimas de 1981 e 2008), Ciranda de Pedra acompanha Virgínia, a filha caçula de um casal de classe média que acaba de se separar e a única das três filhas que vai morar com a mãe. É do ponto de vista da jovem deslocada e solitária que se narram os dramas ocultos sob a superfície polida da família. Loucura, traição e morte são as forças perversas que animam o romance de formação, que na época de seu lançamento, em 1954, chamou a atenção para o talento e a originalidade da literatura da autora – e, mais de meio século depois, é ainda uma de suas obras mais amadas.
Verão no Aquário
(1963)
É sob o ponto de vista hesitante e aflito de Raíza que somos convidados a mergulhar em Verão no aquário: na temporada mais quente e abafada de sua juventude, a jovem oscila entre a memória do pai, que entregara sua vida ao alcoolismo, e a figura um tanto alheia de sua mãe, Patrícia, escritora madura que se dedica à criação de mais um romance e que, Raíza suspeita, tem uma ligação misteriosa com o ex-seminarista André – um rapaz tão tímido quanto atraente. Neste triângulo imaginado, experiências, recordações e devaneios se entrecruzam, formando o mosaico desordenado de uma geração colhida pelo desmoronamento da família tradicional.
Antes do Baile Verde
(1970)
Uma jovem se prepara para ir a um baile carnavalesco onde as fantasias devem ser todas verdes. Enquanto ela se maquia para o baile, colocando lantejoulas no saiote verde que cobre o biquíni, seu pai agoniza no quarto ao lado. Esse ambiente angustiante do conto Antes do baile verde dita a tônica do livro de contos homônimo. Repleto de narrativas turbulentas, de diálogos cuidadosamente esculpidos e finais em aberto, o livro passeia por diferentes situações – no macabro “Venha ver o Pôr-do-Sol”, um rapaz leva sua ex-namorada a um jazigo de família abandonado; em “O Menino”, uma infidelidade conjugal é observada pelos olhos de um garoto que vai ao cinema com a mãe; já em “A caçada”, um homem fica a tal ponto intrigado com uma velha tapeçaria encontrada num antiquário que acaba por mergulhar na cena retratada na peça. Considerado por muitos críticos o livro de contos literariamente mais bem-sucedido da autora, a obra reúne, ao todo, dezoito histórias escritas entre 1949 e 1969.
As Meninas
(1973)
Num pensionato de freiras paulistano, três jovens universitárias começam a vida adulta de maneiras bem diversas: a burguesa Lorena, filha de família quatrocentona, nutre veleidades artísticas e literárias; a drogada Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante; Lia milita num grupo da esquerda armada e sofre pelo namorado preso. Publicada em 1973, a obra chamou atenção por sua coragem – na história, é descrita uma sessão de tortura, assunto que era rigorosamente proibido então. Mas não foi essa “transgressão” que rendeu à obra o Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras; o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; e o prêmio de Ficção da Associação Paulista de Críticos de Arte. Em As Meninas, a autora transita da primeira pessoa narrativa para a terceira, assumindo ora o ponto de vista de uma ora de outra das protagonistas – uma polifonia que contribui para captar o espírito daquela época conturbada e de vertiginosas transformações e os conflitos vividos pelas juventudes durante a Ditadura Militar.
Seminário dos Ratos
(1977)
Em Seminário dos Ratos, o fantástico aparece como um modo privilegiado de acesso ao real, sempre de forma diversa e surpreendente. Nas 14 histórias a autora alterna tempos narrativos, passeia da primeira à terceira pessoa e se vale do discurso indireto livre, tecendo uma construção literária que é altamente complexa mas na qual é fácil mergulhar.
Invenção e memória
(2000)
Um baile de faculdade em São Paulo quase no final da Segunda Guerra Mundial; um galo que se deixa morrer de fome depois que seu amigo peru é sacrificado para uma ceia; as relações equívocas entre um velho e um garoto vistos num restaurante; um vampiro norueguês que atravessa os séculos em busca de sua amada, uma índia brasileira. Descobertas, projetos e desencantos vividos ou imaginados ao longo das décadas. Essas são algumas das histórias narradas em Invenção e Memória, que entrelaça as potências criativas da memória e da invenção e rendeu a Lygia mais um Prêmio Jabuti.
Jessica Soares
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