Elas, protagonistas (e feministas)

Lista reúne obras povoadas por personagens femininas complexas que confrontam o sexismo
Elas, protagonistas (e feministas)divulgação / reprodução

A gente já falou por aqui que, quando o assunto é a igualdade de gêneros na literatura, ainda temos um bocado para avançar – no Brasil, a escrita literária ainda é predominantemente masculina, feita majoritariamente por homens e sobre homens. Mas, enquanto seguimos na luta por mais espaço e visibilidade para as muitas talentosas escritoras que fizeram (e seguem fazendo) história e por personagens femininas mais diversas nas páginas, há motivos também para comemorar: a literatura mundial infanto-juvenil e a ficção voltada para jovens adultos está cheia de mulheres inteligentes, fortes, corajosas e mais do que capazes de chutar alguns traseiros. E esses livros precisam estar em sua lista de leituras.

E a melhor notícia é que o blog da New York Public Library fez um levantamento que vai ajudar a escolher seus próximos livros de cabeceira. A lista apresenta uma porção de obras povoadas por mulheres complexas que confrontam o sexismo, desafiam o patriarcado, subvertem expectativas de gênero e celebram a solidariedade (e sororidade) entre mulheres.

Para dar uma mão para os leitores e leitoras em solo brasileiro, o Pra Ler vasculhou as prateleiras brasileiras e traz abaixo todos os livros que já possuem edições em português:

O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks, de E. Lockhart (2009)

Quando o caminho de Frankie Landau-Banks, de 15 anos, converge com o de Matthew Livingston, o cara mais popular do colégio, ela se apaixona não só por ele, mas por todo o universo a que é apresentada quando começa a conviver com o círculo de amigos do último ano – as piadas internas, a camaradagem e a liberdade total daqueles garotos. O problema é que, por mais que se esforce, Frankie não consegue se integrar àquele mundo. A gota d’água vem quando ela descobre que Matthew pertence à Leal Ordem dos Bassês: uma sociedade secreta que há várias gerações prega peças pela escola – e não permite que garotas se juntem ao grupo. Mas Frankie não se conforma em ser deixada de fora. Entre uma pegadinha e outra, ela levanta discussões sobre gênero e poder, indivíduos e instituições.

Caminhos de Sangue, de Moira Young (2011)

Nesta distopia que se passa em um mundo pós-apocalíptico, a jovem Saba passou a vida inteira na Lagoa da Prata, uma imensidão de terra desértica assolada por constantes tempestades de areia. Na companhia da família, a garota está acostumada à miséria e à aridez do lugar. Um dia, porém, uma gigantesca tempestade de areia traz em seu rastro quatro cavaleiros de manto negro, e a vida que Saba conhece chega ao fim: seu pai é morto, seu irmão gêmeo, Lugh, é raptado e ela não tem escolha a não ser embarcar em uma perigosa jornada para resgatá-lo.

Graceling: o Dom Extraordinário, de Kristin Cashore (2008)

A jovem guerreira Katsa tem olhos de cores diferentes – um azul e outro verde. Em seu mundo, essa peculiaridade é a marca de graceling, alguém com um dom extraordinário. Alguns são excelentes nadadores, dançarinos, cozinheiros, matemáticos. Mas o dom de Katsa é diferente e único – ela possui a habilidade de lutar e matar. Por causa disso, é usada como assassina pelo cruel rei de Middluns, o seu próprio tio. Consumida pela culpa, Katsa cria o Conselho, uma confraria a partir da qual passa a promover missões secretas para prevenir injustiças e lutar pela liberdade.

A canção de Alanna, de Tamora Pierce (1983)

Primeira obra de uma série de quatro livros escritos por Tamora Pierce – e única publicada no Brasil –, A canção de Alanna acompanha a menina que dá título à aventura. O que Alanna mais quer no mundo é ser uma guerreira extraordinária, que vença batalhas e consiga ajudar as pessoas. Ela só tem um problema: no reino de Tortall, meninas não lutam, ou melhor, não fazem quase nada. Então, para realizar seu sonho, ela deve arriscar a própria vida tornando-se Alan de Trebond.

Codinome Verity, de Elizabeth Wein (2012)

Outubro, 1943. O avião britânico pilotado por Maddie sofre uma pane e cai em plena França ocupada pelos nazistas. Sua melhor amiga, Queenie, é a única passageira desse voo sem volta que muda o destino das duas garotas. O livro conta a história de uma grande amizade, além de também falar sobre espionagem, tortura, mulheres que pilotam aviões e os horrores da Segunda Guerra Mundial.

Jackaby, de William Ritter (2015)

Eleito o melhor livro jovem 2014 pela Kirkus Review e um dos 40 melhores YA da estação pela CNN, o livro acompanha Abigail Rook, que deixou sua família na Inglaterra para encontrar uma vida mais empolgante além dos limites de seu lar. Entre caminhos e descaminhos, no gelado janeiro de 1892, ela desembarca na cidade de New Fiddleham. Tudo o que precisa é de um emprego de verdade, então, sua busca a leva diretamente para Jackaby, o estranho detetive que afirma ser capaz de identificar o sobrenatural. Contratada como assistente, em seu primeiro dia de trabalho Abigail se vê no meio de um caso emocionante – um serial killer está à solta na cidade.

Ghost World (Mundo Fantasma), de Daniel Clowes (1989)

A graphic novel Mundo Fantasma (Ghost World) foi criada em 1989 pelo quadrinista Daniel Clowes e acompanha o dia a dia de Enid e Becky, duas adolescentes cínicas e inteligentes que são colocadas frente às mais estranhas situações e aos mais bizarros personagens, numa crítica mordaz à sociedade moderna.

Ms. Marvel. Nada Normal, de G. Willow Wilson (2014)

Primeira história em quadrinhos protagonizada por uma heroína muçulmana, Ms. Marvel é assinada pela prestigiada roteirista G. Willow Wilson. A HQ acompanha Kamala Khan, uma garota comum de New Jersey – até que subitamente ganha dons extraordinários. Ao descobrir os perigos associados aos seus recém-descobertos poderes, Kamala precisa lidar também com o segredo que existe por trás deles.

Para quem quiser se aventurar nas obras em inglês, confira abaixo outras dicas de livros da biblioteca pública de Nova York:

Asking For It, de Louise O’Neil
Dairy Queen, de Catherine Gilbert Murdock
Endangered, de Elliot Schrefer
Gabi, a Girl in Pieces, de Isabel Quintero
Homeless Bird, de Gloria Whelan
If You Could Be Mine, de Sara Farizan
Kissing in America, de Margo Rabb
Ash, de Malinda Lo
Glory O’Brien’s History of the Future, de A. S. King

Parable of the Sower, de Octavia Butler
Shadows of Sherwood, de Kekla Magoon
Summer of the Mariposas, de Guadalupe Garcia McCall
A Northern Light, de Jennifer Donnelly
The Agency: A Spy in the House, de Y.S. Lee
Only Ever Yours, de Louise O’Neil

Black Dove, White Raven, de Elizabeth Wein
Full Cicada Moon, de Marilyn Hilton
A Mad, Wicked Folly, de Sharon Biggs Waller
These Shallow Graves, de Jennifer Donnelly
Giant Days, de John Allison
Lumberjanes, de Noelle Stevenson e Grace Ellis
This One Summer, de Mariko Tamaki e Jillian Tamaki
The Adventures of Superhero Girl, de Faith Erin Hicks

Jessica Soares

As páginas amareladas, a poeira da capa, o lugar escondido no armário em que esperava por ser desbravado – a história sempre teve início antes das palavras. Nunca pisei no solo de outro planeta. Mas, na falta de naves, aviões e ônibus de viagem, embarquei nas páginas dos livros, que nunca falharam em me levar para longe.