Leia mulheres!

Iniciativas buscam incentivar e discutir a presença de mulheres na literatura
Leia mulheres!#KDmulheres

Todos os meses, em 28 cidades de Norte a Sul do Brasil, leitores se encontram para conversar sobre livros escritos por mulheres. A iniciativa Leia Mulheres surgiu em 2015, na cidade de São Paulo, encabeçada por Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques. A inspiração foi a hashtag #readwomen2014 proposta naquele ano pela escritora e ilustradora britânica Joanna Walsh. Na época, a ação bombou no twitter e repercutiu em outros países, inclusive no Brasil.

A ideia era chamar a atenção para a produção feminina na literatura, um espaço ainda marcado pelo machismo, como já falamos aqui. De acordo com a pesquisa da professora Regina Dalcastagnè, da Universidade de Brasília, apresentada no livro Literatura brasileira contemporânea: um território contestado, entre 1990 e 2004, os homens representaram 75% dos autores publicados no país. E mais: 70% ds autores são de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e 93,9% dos escritores (homens e mulheres) são brancos. A pesquisadora analisou três grandes editoras nacionais: Companhia das Letras, Record e Rocco.

What we really, really want
Ser publicada –  e lida –  não é o único desafio para as mulheres. A presença feminina nos eventos literários, seja como especialistas na área ou como escritoras, ainda é baixa. Ainda em  2014, no calor dessas discussões, a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, o maior evento literário do país, divulgou a programação daquele ano. Dos 47 convidados, 9 eram mulheres. Até 2015, apenas uma mulher havia sido homenageada nas 13 edições da festa: Clarice Lispector, em 2005.

O projeto de empoderamento e visibilidade para mulheres no campo da escrita e da literatura #KDmulheres foi um dos movimentos que questionou o número de mulheres na Flip 2014, chamando a atenção para a disparidade no evento. A crítica pareceu ter sido ouvida: em 2016, a poeta Ana Cristina Cesar foi escolhida como homenageada. O número de convidadas também aumentou muito. Neste ano foram 17 mulheres, seis a mais que em 2015, e quase o dobro de convidadas de 2014, quando o evento recebeu 9 autoras. Mas, pelo jeito, foi ainda um pequeno – bem pequeninho mesmo –  passo à frente. O número de convidados homens continuou sendo maioria, 22 no total, e a escritora acabou invisibilizada pela própria festa, como apontam as críticas do KDmulheres, no texto Ana C.: uma homenageada invisível e culpada do insucesso da Flip.

Ler mulheres (ver filmes e séries produzidos por elas, ouvir cantoras, ir a exposições de artistas mulheres, e por aí vai) é importante nesse processo de visibilidade e aumento da representatividade feminina nas artes – e (por que não?) na política no esporte, no jornalismo, etc. Os clubes de leitura do Leia Mulheres que se espalharam por todo o Brasil se organizam em grupos no Facebook como os de Belo Horizonte, Salvador e Recife, ou divulgam os livros a serem lidos, as datas e os locais dos próximos encontros no site e no Facebook da iniciativa.

Depois de ler tudo isso, esperamos que você esteja com mais vontade de se aventurar pela obra de uma escritora. Para ajudar você nessa busca, o grupo de Belo Horizonte organizou uma lista colaborativa com nomes de autoras de diversas nacionalidades para todos os gostos. Não tem desculpa, hein? 😉

 

Thais Marinho

Ainda são poucos os livros na minha estante e muitos na lista para serem lidos, mas a paixão por eles já está há muito tempo instalada. Hoje, cá estou, quase ex-jornalista, estudante de Letras, atualmente em terras hermanas, desbravando o argentinês e as literaturas hispano-americanas.